Um teste ainda pouco conhecido e utilizado no Brasil pode auxiliar no diagnóstico e no tratamento do diabetes: a hemoglobina glicada. Neste dia 14 de novembro, Dia Mundial do Diabetes, especialistas fazem o alerta para a realização do exame como forma complementar ao diagnóstico da doença, que deve atingir cerca de 366 milhões de pessoas em 2030.
O exame de glicemia é atualmente o procedimento mais comum para diagnóstico e monitoramento da diabetes. Ele identifica os níveis de açúcar no sangue do paciente em um determinado dia, geralmente em jejum. No entanto, a hemoglobina glicada (A1C) mostra os níveis de glicose ligados à proteína hemoglobina. E a quantidade encontrada tem relação direta com a concentração pregressa de açúcar no sangue.
“As moléculas de hemoglobina têm meia vida de cerca de 60 dias, habitualmente. Ao longo do tempo, caso haja aumento do açúcar no sangue, a adesão de suas moléculas à hemoglobina também cresce. Por isso, a quantidade de açúcares presente nelas indica quais foram as concentrações no sangue ao longo desse período, permitindo um retrato histórico e dando mais subsídios para o diagnóstico ou para avaliação do tratamento aos já doentes”, explica a médica patologista clínica Luisane Vieira, diretora técnica do Laboratório Lustosa.
De acordo com a médica, a glicemia tradicional aponta a variação dos níveis de açúcares em um curto espaço de tempo. Essa variação, no entanto, pode ser causada por outros fatores, como o estresse, o que prejudica o diagnóstico. “Já a hemoglobina glicada consegue refletir o monitoramento por um período maior, sem a necessidade de jejum, e com apenas uma coleta de sangue”, observa Luisane.
Em 2017, a Sociedade Brasileira do Diabetes e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia divulgaram um documento em que padronizam os procedimentos que os laboratórios devem seguir e os parâmetros que devem ser analisados para nortear as decisões dos profissionais. Assim, é esperado que cada vez mais profissionais indiquem a realização desse procedimento.
“É importante que os médicos não percam a oportunidade de indicar o exame de A1C em um laboratório de confiança no caso de suspeita de diabetes e, principalmente, no seu monitoramento. Os resultados da hemoglobina glicada costumam refletir melhor os níveis de glicose, uma vez que alguns pacientes burlam a dieta no dia a dia e, às vésperas de fazer o exame de rotina, se comportam melhor para ter um bom resultado”, conclui a médica.
SOBRE – A diabetes se caracteriza pelo excesso de concentração de açúcar no sangue, por falha na produção ou na ação do hormônio insulina, produzido pelo pâncreas. O tipo 1 está ligado a falhas diretas das células do órgão produtor. Já o tipo 2, responsável por cerca de 90% dos registros, é associado a fatores externos, como a obesidade, fatores genéticos e estilo de vida. Os principais sintomas são aumento da diurese, sede, fraqueza e com o tempo podem surgir lesões das artérias, dos rins e da visão, que podem demorar anos para se manifestar. A diabetes em geral não regride espontaneamente, mas se descoberta precocemente seu controle pode permitir que o
indivíduo leve uma vida praticamente normal.
Por ter sintomas pouco intensos e que podem ser confundidos com várias outros males de menor gravidade, o trabalho de prevenção da doença por meio de exames e análise do histórico familiar são essenciais para o diagnóstico precoce e controle.
ENTREVISTA
BEAGÁ SAÚDE: O que é o exame para Hemoglobina Glicada?
DRA LUISANE VIEIRA: O exame para hemoglobina glicada (HbA1c) avalia a media do açúcar (glicose) no sangue nos últimos 2 a 3 meses. Podemos comparar a glicemia a uma fotografia e a hemoglobina glicada a um filme. Os pacientes com diabetes devem fazer esse teste regularmente.
BS: O que é Hemoglobina?
LV: A hemoglobina é uma proteína encontrada dentro das células vermelhas (hemácias). Ela é responsável pelo transporte de oxigênio e pela cor vermelha do sangue.
BS: Como o teste funciona?
LV: Quando o açúcar glicose aumenta no sangue, temos o diabetes. A glicose se liga à hemoglobina das hemácias, proporcionalmente
ao aumento da glicemia e à duração da glicemia elevada. As hemácias “vivem” cerca de três meses com os açúcares ligados a ela.
BS: Qual é o valor “Normal” para a Hemoglobina Glicada?
LV: Para pessoas sem diabetes, o intervalo de referência vai de 4%a 5,6%. Níveis entre 5,7% e 6,4% significam uma chance mais alta
de ter diabetes, chamada “pré-diabetes”. Níveis iguais ou maiores do que 6,5% em geral significam que o diabetes já pode estar instalada.
BS: Quais são os alvos de Hemoglobina Glicada para quem já tem Diabetes?
LV: Os valores alvo de Hemoglobina Glicada para pacientes diabéticos em tratamento deve ser definido pelo médico, levando em conta as características individuais do paciente. Quantos maiores os níveis de Hemoglobina Glicada, mantidos aos longo do tempo, maiores as chances de complicações. Em geral, devem ser mantidos níveis abaixo de 7%. Os especialistas recomendam pelo menos duas dosagens ao ano.