Se você já leu alguma coisa sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adultos, é muito provável que tenha se identificado com uma série de sintomas. Muitas pessoas chegam aqui no consultório praticamente com um diagnóstico pronto do Dr. Google, querendo apenas uma confirmação do psicólogo. De certa forma, seria tranquilizante jogar a “culpa” da ansiedade, do esquecimento, da impulsividade e de tantos outros problemas em um distúrbio físico, que independe do nosso controle. Mas, na realidade, não é bem isso o que ocorre na maioria das vezes, quando tratamos de pessoas adultas.
Algumas situações e doenças podem nos levar a crer que temos TDAH. Antes de concluir o diagnóstico, portanto, é preciso excluir uma série de outros fatores que podem estar ocasionando os sintomas. Transtornos de ansiedade ou afetivos, como a depressão, por exemplo, podem ser confundidos com TDAH por conta da semelhança ou da sobreposição de alguns sinais. Essas condições são a causa aparente de aproximadamente 50% dos diagnósticos de TDAH em adultos.
Tamanha é a complexidade e abrangência dos critérios de avaliação, que raramente é possível identificar a doença em uma única consulta. Em alguns casos, levamos meses para concluir o diagnóstico, uma vez que todos os sintomas do TDAH acabam se sobrepondo a sintomas de humor. Além disso, o índice de hereditariedade é baixo (cerca de 35%) e a resposta ao tratamento ainda é muito inespecífica.
É importante frisar que TDAH afeta diretamente a vida da pessoa, provocando esquecimentos importantes, dificuldades de seguir rotinas, de se relacionar, de executar tarefas propostas. Por isso, raramente a pessoa consegue se manter por mais de dois anos em um mesmo emprego. Tédio, alterações frequentes de humor, impulsividade (e arrependimento), dificuldade de expressar ideias e colocá-las em prática, desatenção e muita, muita ansiedade fazem parte do seu dia a dia.
O TDAH normalmente aparece na infância ou até na adolescência. Em adultos, sua manifestação é menos frequente e o diagnóstico é mais complexo – mas possível. Estudos mostram que a incidência do TDAH em jovens, entre 18 a 24 anos, triplicou nos últimos anos. Consequentemente, aumentaram as prescrições e o uso de anfetaminas, drogas utilizadas para o tratamento do transtorno.
Para o diagnóstico da doença, deve haver claras evidências de interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional apropriado em termos evolutivos, além de haver uma persistência na manifestação dos sintomas. Uma análise clínica criteriosa investiga características cognitivas (intelectuais), comportamentais e emocionais, histórico familiar, desenvolvimento escolar ou profissional, relacionamentos, entre outras coisas que possam estar ligadas à distração, agitação e impulsividade.
Seja lá qual for o motivo dos sintomas, eles incomodam. O diagnóstico correto é o primeiro passo para garantir um tratamento adequado e a qualidade de vida dessas pessoas.
* Gislaine Soares é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurometria