A obesidade chama atenção e já é tratada como um problema de saúde pública. Conforme dados do Ministério da Saúde, 55,7% dos brasileiros estão acima do peso e 19,8% estão obesos. O excesso de peso e a obesidade também estão relacionados ao câncer de mama, em diferentes aspectos. Alguns estudos demonstraram que, após o tratamento, muitas mulheres ganham peso, sendo ruim para a saúde como um todo e, também, para o acompanhamento do câncer.
O aumento de peso ao longo do tratamento oncológico é decorrente de diversos motivos, como menopausa precoce decorrente do tratamento medicamentoso, por mudanças no metabolismo, por redução de atividades físicas e, até mesmo, por necessidade de uso de corticoides, elevando o apetite e provocando a retenção de líquidos. Há alterações na estrutura corporal e a perda de massa magra que cede espaço ao acúmulo de gordura.
A elevação do peso significativo após o diagnóstico de câncer de mama é um problema maior do que se pensa. Um artigo publicado pelo BMC Cancer, em fevereiro de 2020, aponta que no período de dois anos após o diagnóstico de câncer de mama, a taxa de sobrepeso/obesidade cresceu de 48,5% para 67,4%. A taxa de obesidade, sozinha, quase dobrou, de 17% para 32%. A maioria das mulheres (63,7%) relatou ganhar peso após o diagnóstico, com um aumento médio de 9kg, ocorrendo, principalmente, em um ano do diagnóstico. Os achados são preocupantes, porque o ganho de peso antes e depois do diagnóstico de câncer de mama tem sido associado a aumento da morbimortalidade. As mulheres com maior peso no diagnóstico parecem apresentar um risco aumentado, porém aquelas que estão dentro da faixa de peso saudável no diagnóstico, mas que ganham peso, enfrentam um risco maior de recidiva do câncer de mama.
A preocupação não deve estar ligada à aparência física e, sim, à saúde em geral, uma vez que o controle alimentar não se refere somente à estética, mas às doenças desenvolvidas decorrentes do excesso de peso, como o surgimento de pressão alta e doenças cardíacas.
Não existe segredo em manter o peso durante o tratamento do câncer de mama. É preciso se alimentar de forma equilibrada, por vezes após orientações fornecidas por nutrólogos ou nutricionistas e praticar atividade física regularmente, possibilitando ao organismo reconstruir os tecidos saudáveis e massa muscular. Os cuidados de vida saudável melhoram a disposição ao tratamento, aumentam a tolerância aos efeitos colaterais da quimioterapia e elevam a qualidade de vida consideravelmente. O controle do peso ao longo do tratamento é fundamental para uma boa recuperação com maior qualidade de vida e sobrevivência ao câncer de mama. O melhor é se cuidar.
* Annamaria Massahud é presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais