Estudos recentes apontam para a correlação direta entre a idade do homem e a diminuição da qualidade do esperma e função testicular, contrariando o consenso associativo entre a redução nas chances de gravidez com o aumento da idade da mulher e a diminuição da quantidade e qualidade dos óvulos. A análise integra uma pesquisa americana, que incluiu quase 18 milhões de nascidos vivos, e associou a idade paterna superior a 44 anos ao aumento de anomalias congênitas e complicações obstétricas, assim como à internação em unidade de cuidados intensivos neonatais.
“Os dados demonstram que a idade paterna avançada pode ter efeitos negativos nas taxas de gravidez e de nascidos vivos”, observa a professora titular do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFMG e diretora científica da Clínica Origen, Márcia Mendonça Carneiro. Segundo o estudo, o aumento da idade paterna desencadeia alterações genéticas que podem ser responsáveis pelo desenvolvimento de várias doenças como autismo, esquizofrenia e leucemia. Complicações obstétricas, como o aborto espontâneo, o parto prematuro e o baixo peso ao nascer também podem estar associados ao envelhecimento masculino.
O aumento da expectativa de vida, aliado aos avanços da medicina e às mudanças sociais, culturais e econômicas, integra a lista de justificativas para adiar a gravidez nos dias atuais. Mesmo com a disponibilidade de técnicas modernas e eficazes, como a fertilização in vitro (FIV), a idade feminina é amplamente conhecida como preditora das chances de gravidez. “Aparentemente, os homens estariam a salvo do envelhecimento reprodutivo inexorável, fato validado pelas notícias de paternidade tardia de celebridades, como o ator Robert de Niro e o cantor Mick Jagger”, acrescenta Márcia Carneiro.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), 35% das causas da infertilidade conjugal estão relacionadas ao homem, outros 35% à mulher, 20% a ambos e 10% a fatores desconhecidos. Márcia Carneiro alerta que os resultados dos estudos disponíveis até o momento devem ser interpretados com cautela, pois não há uma definição clara de idade paterna avançada. As análises mais comuns abrangem faixas de 35 a 45 anos. “Além disso, em muitos casos, há uma combinação de pai e mãe com idades avançadas, o que sugere a contribuição de ambos para possíveis efeitos adversos, tanto na gestação quanto na saúde dos filhos”, avalia a diretora científica da Clínica Origen.
Estilo de vida influencia fertilidade e gestação
O estado de saúde do futuro bebê começa a ser moldado nos 100 dias antes da concepção até os 1000 dias seguintes. Dessa forma, a saúde e a idade dos pais e mães influenciam ativamente tanto nas chances de gravidez quanto na saúde dos filhos. Um número significativo de estudos, publicados nos últimos 20 anos, revela a importância do estilo de vida na fertilidade e na gestação. Nessa perspectiva, o comportamento associado ao planejamento reprodutivo e o cuidado com a saúde dos futuros pais e mães, no período que antecede a concepção, contribui para reduzir as chances de infertilidade e de complicações gestacionais.
“Dentro desse contexto, incluir a saúde do pai é fundamental”, ressalta Márcia Carneiro. A exposição masculina a toxinas e produtos farmacêuticos, drogas, armas químicas e radiações ionizantes, assim como a ingestão de alimentos ultraprocessados, podem impactar no desenvolvimento fetal e comprometer a saúde dos filhos. “Situações de trauma e estresse, exposição ambiental a poluentes e disruptores endócrinos, tabagismo, álcool e obesidade também têm sido relacionados à redução na concentração de espermatozoides”, conclui a especialista.