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Animais “terapeutas” ajudam na recuperação de doentes

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Era o início da década de 50. O cenário? Um hospital psiquiátrico do Rio de Janeiro. Se opondo às recomendações dos órgãos e profissionais da época, a médica e psiquiatra Nise da Silveira permitiu a entrada de uma cadelinha nas dependências do hospital e delegou a um de seus pacientes os cuidados com o animal. Observando a interação entre ambos e a evolução no comportamento do doente, Nise descobriu o potencial terapêutico dos animais e desenvolveu um dos mais famosos estudos da área. Nascia, ali, o primeiro esboço do que seria a Terapia Assistida por Animais, hoje reconhecida e implementada em diversas instituições de saúde Brasil afora.

Mesmo que despretensiosamente, Dra. Nise da Silveira desenvolveu um trabalho pioneiro no Brasil ao permitir a interação entre pacientes com distúrbios psiquiátricos e animais, a quem ela atribui o termo “co-terapeutas”. Seu estudo sobre os benefícios dessa interação para o desenvolvimento do paciente se tornou referência em todo o mundo e abriu portas para que outros profissionais desenvolvessem iniciativas na área.

Atualmente, a terapia Assistida por Animais (TAA), ganhou novas dimensões e conquistou outros espaços. Entidades e instituições de saúde atuam como parceiras para viabilizar, inclusive, a permanência de animais domésticos nos espaços hospitalares e relatam inúmeros benefícios dessa interação para a recuperação dos pacientes. É o caso do projeto de atividade assistida por cães, Um Dia de Cão.

Com atuação no hospital Madre Tereza, em Belo Horizonte, o projeto foi idealizado pelo adestrador Lucinei Braga e pela médica Viviane Parisotto Marino, há 6 anos. A ideia saiu de uma conversa entre o adestrador e a médica que, individualmente, já sonhavam em criar um projeto de terapia assistida. Os dois somaram as habilidades e criaram o Um Dia de Cão, que foi recebido de imediato por toda a equipe do hospital. “O projeto teve uma aceitação muito boa, tanto dos pacientes quanto para os familiares. Os profissionais do hospital também têm muito carinho pela iniciativa e pelos cães participantes” diz Lucinei.

Atualmente, cerca de 20 cães integram a equipe que participa do projeto. As visitas são realizadas por um grupo de seis cães, que vão ao hospital uma vez por mês. Para promover uma interação espontânea e não estressar os animais, a visitação dura, em média, uma hora.
Apoio terapêutico

Além de ser recebida com muita euforia e entusiasmo, a interação com os animais funciona como um apoio terapêutico ao tratamento de diversas patologias, tanto físicas quanto psicológicas. É o que diz a psicóloga e psicanalista, Silvana Prado, do projeto Patas Therapêuticas. De acordo com Silvana, a interação animal e paciente promove aumento da autoestima, da confiança, da comunicação e da afetividade, além de ajudar na resolução de problemas. “A partir dessa interação, podemos perceber que a presença do animal ajuda ao paciente a querer se restabelecer e se envolver em outras atividades, como fazer atividades físicas, por exemplo. Também é muito importante falar das vantagens fisiológicas da terapia com animais, como a liberação de neurotransmissores como a endorfina e a dopamina, a liberação de hormônios como a ocitocina, e, principalmente, a diminuição do cortisol, que é o hormônio do stress”, disse.

Sem fronteiras e sem contraindicações
A intervenção terapêutica com animais é realizada em diversos países do mundo e não existe contraindicação. De acordo com Silvana Prado, é possível fazer tanto a atividade assistida, que inclui entretenimento e conversa, quanto a Terapia Assistida, que tem metodologia, começo, meio e fim. Todas as interações são benéficas para a saúde porque, segundo a psicanalista, ajudam na interação social e afetiva do paciente. “Não existe um lugar onde o animal, principalmente o cão, não consiga fazer a diferença. Já realizamos experiências com pacientes oncológicos, com mobilidade reduzida, doenças crônicas ou congênitas, autismo, síndrome de down, entre outros”, conta Silvana, orgulhosa do projeto que já atendeu até mesmo pacientes internados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Apesar de serem muito requisitados para terapias em ambientes hospitalares e de recuperação, os bichos do projeto Patas Therapêuticas não fazem sucesso apenas nesses ambientes. Os pets já visitaram diversos ambientes com o intuito de reduzir o estresse, como postos policiais e faculdades, durante períodos de prova.
Assim como não há restrições quanto ao ambiente onde os animais possam atuar, não há restrição quanto à espécie dos “bichoterapeutas”. Ainda que gatos e cães sejam os mais recrutados para a função, outros animais também oferecem benefícios durante o processo terapêutico. Coelhos, furões, aves, lhamas, camelos e até bodes fazem parte da lista de animais que já tiveram experiência auxiliando na recuperação de doentes. A equoterapia, terapia com cavalos, por exemplo, foi a primeira a ter seus benefícios reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina.

Critérios
O critério para a escolha dos animais, no entanto, são os mesmos. Além de estar em boas condições de saúde, o animal precisa ser sociável e, no caso de cães, passar por um adestramento para obedecer a comandos básicos. Também é levado em consideração o bem-estar do animal que participa da atividade – e não apenas o do paciente. Segundo Silvana Prado, antes da interação há todo um trabalho com os animais para garantir que eles estejam confortáveis no ambiente e que não venham a ser expostos a situações de estresse.

O adestrador Lucinei Braga reforça ainda a necessidade de avaliação do animal, cujo tutor possui interesse em integrar a equipe de terapia assistida. “Os animais precisam ser sociáveis e obedecerem aos comandos do tutor. Eles são avaliados previamente quanto a esses critérios e, se não se encaixarem, podem passar por um treinamento com o adestrador para se candidatarem novamente”, diz Lucinei. Ainda de acordo com o adestrador, os animais precisam ter entre um e sete anos de vida e terem sido castrados. Após esse período, o animal precisa ser avaliado por um veterinário, para avaliar sua condição física e de saúde.

Projeto de Lei quer autorização para visita de animais em hospitais públicos

 

Tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) um projeto de lei que pede a liberação da entrada de animais em hospitais do Sistema Único de Saúde, o SUS. De iniciativa do deputado estadual Noraldino Júnior, a proposta contempla a presença em hospitais de animais domésticos e de pequeno porte.

No Hospital Madre Teresa, a entrada de animais domésticos para a visitação de seus tutores já é uma realidade. Criado já 6 anos, o projeto foi inspirado na iniciativa de um Hospital norte-americano que arriscou proporcionar aos pacientes algo diferente durante a internação e, assim, começou a levar animais para visitá-los. Observando que os pacientes internados por longos períodos cada vez mais falavam da dificuldade em ficar afastados dos seus animais, a equipe de psicologia do hospital criou o projeto “Visita do Amigo Pet”.
Segundo a equipe do HMT, os animais entram no hospital pela porta da frente como qualquer outro visitante. A autorização é deixada na recepção e, para garantir a segurança e o bem-estar durante a visitação, o animal é transportado até o paciente pelo elevador individualmente. “Temos observado que as visitas influenciam positivamente as equipes dos setores, pois é uma surpresa agradável no meio do dia, aliviando o estresse e mudando um pouco a rotina”, diz a psicóloga do hospital, Fernanda Cauzin.
A demanda para a visitação é grande mas, segundo a equipe do hospital, depende de uma série de fatores para acontecer, incluindo o quadro clínico do paciente e as condições de saúde do próprio animal, além da segurança de ambos durante a visitação. “Para que a visitação aconteça, discutimos com a equipe médica assistente e com a equipe de enfermagem do setor. Essas equipes avaliam o paciente para assegurar que não haja nenhum risco, nem para ele e nem para o animal. Tendo a liberação de ambas, é combinado com os familiares a melhor data e horário para visita”, diz Marina Oliveira, também psicóloga do HMT. Após a liberação, o animal de estimação ainda precisará estar com as vacinas em dia e de banho tomado para ser autorizado a fazer a visita.

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