Um exame de sangue comum nos laboratórios de análises clínicas pode ser hoje o principal marcador do processo inflamatório decorrente da Covid-19: o “Dímero D”. A alteração deste marcador independe da fase da doença, elevando-se desde o estágio inicial, momento em que os sintomas não são severos e que outros marcadores de coagulação, como a contagem de plaquetas, tempo de protrombina (PT) e tempo de tromboplastina parcial (PTT), ainda permanecem inalterados.
A identificação de alterações no Dímero D pode orientar a internação e o tratamento dos pacientes com anticoagulantes, a fim de evitar a trombose dos alvéolos. Isso porque o Dímero D é um produto formado no processo de degradação da fibrina (principal componente dos coágulos sanguíneos) e o aumento de sua concentração está altamente relacionada ao grau de severidade da Covid-19. Portanto, o exame deve ser feito logo que houver um resultado positivo no teste RT-PCR.
De acordo com o gerente técnico do Laboratório Lustosa, Adriano Basques, esta alteração é chamada de Síndrome CAHA (Anormalidades Hemostáticas Associadas à COVID-19) e cerca de 70% dos casos não tratados evoluem para severidade. “O vírus SARS-CoV-2 causa inflamação pulmonar em todos os pacientes que progridem para a tempestade de citocinas nos casos mais graves. O processo inflamatório na camada mais fina que reveste os vasos sanguíneos alveolares desencadeia a ativação da coagulação com o conceito de imunotrombose bem estabelecido na literatura”, aponta o farmacêutico-bioquímico.
Adriano explica que o processo inflamatório que envolve o endotélio vascular alveolar, mesmo nos estágios iniciais, pode desencadear a formação de coágulos pulmonares. Esses pequenos trombos podem não ser detectados facilmente nas tomografias computadorizadas, devido ao seu pequeno tamanho. Se não tratada, a inflamação intensa ou a tempestade de citocinas pode fazer com que a extensão dos trombos pulmonares se torne maior, o que clinicamente se apresentaria como agravamento da insuficiência respiratória e, radiologicamente, como defeitos de perfusão.
“Por se tratar de uma doença que inicia na lesão do endotélio vascular, vários marcadores laboratoriais podem ser utilizados para avaliação desta disfunção, como atividade do fator de Von Willebrand, selectinas, micropartículas por exemplo. Porém, o Dímero D é um marcador de hipercoagulabilidade disponível e de fácil acesso, que aparece logo no início da doença”, destaca.
Entenda os estágios da CAHA