Estudos apresentados nesta semana, durante o 3º Seminário Internacional de Segurança Alimentar e Nutricional de Belo Horizonte, indicam que a capital mineira precisa de 10 vezes mais vegetação para ter um alívio térmico em relação ao calor. De acordo com a professora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eleonora Sad de Assis, que apresentou o painel de abertura do evento, estudos mundiais sobre conforto térmico indicam que a vegetação deve representar pelo menos 30% de uma área urbanizada para gerar um impacto positivo no microclima, sendo que Belo Horizonte possui apenas 3% de vegetação.
A professora alertou que não adianta apenas plantar hortas e gramas. É necessário que haja árvores e que o manejo seja feito da forma correta, para que a temperatura realmente caia. Mais que isso, a vegetação deve ser suprida de água suficiente para a sua sobrevivência e evapotranspiração. “A agricultura urbana somente influencia o microclima se estiver associada à implantação dos três estratos: arbóreo, arbustivo e herbáceo. Quando implantada nas coberturas e fachadas dos edifícios, traz uma diminuição das temperaturas superficiais”, relata Eleonora, que é doutora em Estruturas Ambientais Urbanas e mestre em Conforto Ambiental.
De acordo com ela, uma árvore de 10 metros é capaz de bombear para o ar mais de 300 litros de água por dia. “As árvores são bombas de água. O processo de transpiração delas umidifica o ar e traz o conforto térmico, modulando o clima”, explica. Segundo a professora, a vegetação absorve parte da energia solar, aumenta a umidade local pela evapotranspiração, diminui a temperatura e a amplitude térmica – responsável pelos picos de calor.
Outros pontos importantes são a preservação dos sistemas naturais, com o plantio direto, e o aumento da biodiversidade em áreas urbanas, o que possibilita o retorno de pássaros e, consequentemente, a redução de insetos causadores de arboviroses. Eleonora destaca, ainda, que os espaços produtivos ajudam na recuperação ou descontaminação do solo urbano, que é um requisito para a qualidade dos alimentos produzidos, aumentam as áreas de infiltração e o tempo de permanência da água no sistema urbano.
“Nós temos que aprender com a natureza e dar autonomia para que as cidades se mimetizem como ecossistemas. Por isso a agricultura urbana é tão importante. Ela tem o potencial de integrar soluções baseadas na natureza”, conclui.
De acordo com a deputada estadual Leninha, que participou da abertura do Seminário nesta quarta-feira, é preciso desenvolver políticas públicas para equilibrar o avanço das mudanças climáticas. “Incentivar o consumo local é um dos pontos primordiais nesse processo. A comida precisa andar menos para chegar no consumidor final. Todos temos direito à natureza e é preciso garantir comida de verdade às pessoas, sem veneno”, frisou.
A subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Belo Horizonte, Darklane Rodrigues Dias, informou que há, hoje, 56 espaços públicos destinados à agricultura urbana, e que BH realiza, há 30 anos, ações voltadas para aumentar as unidades produtivas. Segundo ela, desde 2017 existem políticas públicas estruturadas com o intuito de aumentar essas áreas.
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