quinta-feira, dezembro 26, 2024
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Casos de chikungunya em Minas já são quase 7 vezes maiores que em 2022

Diante do recente crescimento de casos de dengue e chikungunya no Brasil em 2023, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e do Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury conduzem um estudo de vigilância genômica e epidemiológica dos casos de arboviroses. A pesquisa tem intuito de acompanhar o cenário da distribuição e dos determinantes das doenças, além de emitir alertas para o sistema público de saúde, se necessário. Os últimos dados do Projeto de Vigilância Genômica demonstraram que estamos vivendo uma epidemia, com aumento de coinfecção de dengue e chikungunya.

Os pesquisadores compararam a taxa de positividade para arboviroses – doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos –, nos intervalos de 1 de janeiro a 29 de julho, dos anos de 2022 e de 2023, quando ocorreram picos de casos. Foram usadas amostras positivas para arboviroses, em exames de diagnóstico sorológico (IgM) e molecular (antígeno e PCR), de cerca de 14 estados brasileiros, incluindo os quatro mais populosos, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, e envolvendo as cinco grandes regiões do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul).

Dentre os cerca de 62 mil diagnósticos analisados, só em Minas Gerais o número de casos de chikungunya em 2023 já é quase sete vezes maior do que o registrado em 2022. No mesmo estado, os registros de Dengue se apresentaram três vezes maiores do que no ano anterior. Além de confirmar que há uma epidemia de arboviroses em diversas regiões brasileiras, a pesquisa encontrou um alto índice de casos de coinfecção no estado de Minas Gerais. Já se sabia da ocorrência de infecção mútua em cerca de 2-3% dos casos, durante os picos de epidemia por arboviroses. A taxa de coinfecção entre os dois vírus no estudo foi de 11%.

Tecnologia nacional

Um grande diferencial do estudo foi o uso de um teste molecular capaz de detectar simultaneamente vários vírus. “A Biomanguinhos doou para a UFMG os painéis de detecção do vírus”, destaca o coordenador do Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, professor Renato Santana. “Como os sintomas clínicos desses arbovírus são muito parecidos e é comum confundir dengue e chikungunya, foi isso que permitiu diferenciar uma doença da outra e ainda observar a ocorrência das duas juntas”, esclarece Santana, reiterando a grande importância de se conhecer a co-circulação dos dois vírus e as altas taxas de casos de coinfecção em nosso estado.

A bióloga Danielle Zauli, coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento do Hermes Pardini/Grupo Fleury, vai além na análise dos resultados. Segundo ela, dentre os estados com maiores números de casos, Minas Gerais se destaca, possivelmente por ter fronteira com estados de outras regiões brasileiras. “Nossos resultados reforçam a dengue como doença endêmica no nosso país, com circulação em todo o território nacional. Já sobre os casos de chikungunya, ao contrário de dengue, a pesquisa concluiu que estão associados a eventos mais recentes de importações deste vírus de estados do Nordeste. Alertamos também para a importância do monitoramento nas fronteiras estaduais”, esclarece a pesquisadora e microbiologista do Laboratório Hermes Pardini.

Dentre as hipóteses para a ocorrência das duas doenças juntas, os pesquisadores da UFMG e do Laboratório Hermes Pardini defendem os altos índices de chuvas em 2022-2023; o aumento do número de mosquitos nos últimos anos; e a interrupção das campanhas de prevenção e controle de vetores decorrentes da pandemia de covid-19. Eles defendem a manutenção dos programas de vigilância viral, além das medidas de prevenção e de controle das arboviroses no Brasil. “Há necessidade de acompanhamento dos sintomas e evolução clínica dos casos de coinfecção por estes dois vírus e de que os órgãos de saúde reforcem o controle dos vetores Aedes aegypti no Brasil”, recomenda o virologista da UFMG.

Diagnóstico, tratamento e controle da epidemia

“O resultado da pesquisa mostra também a necessidade de alertar a população para a importância da testagem para arboviroses”, alerta a infectologista do Hermes Pardini, Melissa Valentini. Segundo a médica, as doenças transmitidas pelo mesmo mosquito Aedes aegypti, como zika, chikungunya e dengue, têm quadros clínicos semelhantes e, na maioria das vezes, a diferenciação só pode ser confirmada com testes laboratoriais. Os principais sintomas, de acordo com a infectologista, são, dor muscular e nas articulações, febre, fadiga e outros, como dores articulares por períodos prolongados.

“Em casos suspeitos de dengue ou chikungunya, como os sintomas são agudos e semelhantes, deve-se recomendar ao paciente fazer o diagnóstico diferencial, para o adequado acompanhamento e conduta clínica. Existem testes específicos para dengue, zika vírus e chikungunya. O diagnóstico correto é importante para que as autoridades de saúde possam tomar as medidas necessárias para controle da doença e para que os médicos possam dar o tratamento adequado ao paciente”, reforçou a infectologista.

Estes resultados foram gerados com recursos do Instituto Todos pela Saúde (ITPs) e do Ministério da Ciência e Tecnologia como ampliação da rede de covid-19 para vigilância de outros vírus.

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