A descoberta de uma gestação envolve uma série de dúvidas, cuidados e recomendações que acompanham a gestante até o nascimento do bebê. Ao iniciar o pré-natal, a futura mãe passa a ter uma intensa rotina de exames para o rastreamento de doenças e possíveis complicações, na maioria das vezes, de nomes e riscos totalmente desconhecidos por ela e por mais da metade da população. É o caso, por exemplo, da Síndrome HELLP, uma complicação obstétrica grave que pode levar à morte tanto da mãe quanto do bebê.
Ainda pouco conhecida e pouco difundida, a síndrome HELLP afeta, segundo a Organização Mundial de Saúde, uma ou duas mulheres a cada mil gestações. Ela é caracterizada por três sinais clínicos: hemólise, que corresponde à destruição das hemácias, alteração das enzimas do fígado e diminuição na quantidade de plaquetas – daí o nome HELLP, que significa, do inglês, Hemolysis, Elevated Liver enzyme e Low Platelet count.
Apesar de ser uma síndrome grave, a HELLP tem cura se descoberta e tratada rapidamente. Os sintomas são variados e geralmente aparecem entre a 28ª e a 36ª semana de gestação, embora já tenham sido identificados casos no segundo trimestre de gravidez ou até mesmo no pós-parto. O grande problema é que a síndrome normalmente está relacionada com a pré-eclampsia, o que pode dificultar o diagnóstico pela similaridade dos traços.
Os sinais vão desde manifestações comuns da gestação, como mal-estar geral, náuseas e vômitos, até outras bem características como pressão arterial alta, alterações na visão e icterícia. Caso apresente algum desses sintomas, a gestante precisa procurar atendimento médico imediato, principalmente se já possuir diagnóstico de pré-eclampsia, diabetes, lúpus ou outras patologias cardíacas e renais.
O tratamento pode envolver uso de medicamentos, internação para acompanhamento em Unidade de Terapia Intensiva e, em casos mais graves, à interrupção da gravidez. Por isso, a atenção aos sintomas e a realização dos exames laboratoriais são tão importantes durante a gestação. Quanto mais cedo o diagnóstico for realizado, mais chances a gestante têm de conseguir concluir a gestação sem grandes complicações.
Segundo o gerente técnico do Laboratório Lustosa, o farmacêutico bioquímico Adriano Basques, um simples hemograma pode ajudar a identificar problemas na gestação. “Popularmente conhecido apenas como “exame de sangue”, ele pode ajudar o médico a identificar a presença de doenças que alteram a composição do sangue. Essas alterações podem indicar a presença de muitas patologias ocultas, como a síndrome HELLP”, disse o profissional de saúde.
Ainda segundo Basques, outros testes laboratoriais podem ser solicitados para a confirmação do diagnóstico. “O médico pode indicar outros exames que avaliam as enzimas do fígado como o LDH, bilirrubina, TGO e TGP, por exemplo. Munido desses resultados, o obstetra poderá avaliar a condição de saúde da gestante e cruzar os dados para o fechamento de um diagnóstico mais assertivo. Se realizados no tempo certo, os testes laboratoriais podem evitar o agravamento desses casos e, consequentemente, reduzir os índices de mortalidade materna”, afirma.
Síndromes hipertensivas na gestação:
As síndromes hipertensivas da gestação, incluindo a hipertensão crônica e todo o espectro da pré-eclampsia, são responsáveis por complicações em cerca de 7% das gestações, segundo um estudo realizado pela associação profissional de obstetras e ginecologistas dos Estados Unidos, a AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS.
De acordo com a OMS, a hipertensão e suas evoluções, como a pré-eclampsia e a eclampsia, lideram a lista de doenças que mais matam mulheres durante a gestação e no pós-parto. No Brasil, esse dado não é diferente. De acordo com o Ministério da Saúde, 35% dos casos de óbitos no país estão relacionados às síndromes hipertensivas na gestação. A taxa de mortalidade é de 140 a 160 a cada 100.000 nascimentos.
A hipertensão arterial também é apontada pelo MS como uma das principais causas de nascimentos prematuros e responsável por um grande número de internações em Centros de Tratamento Intensivos, os CTIs.
Os casos são mais comuns nos países em desenvolvimento, e acometem mulheres de todas as idades, embora a incidência de casos mais graves como o da síndrome HELLP seja mais comum em gestações consideradas tardias.