Um diagnóstico da população idosa LGBT+ de Belo Horizonte, que está na interseção de grupos de pessoas às quais direitos são negados, é o objetivo central de uma publicação com dados inéditos lançada pelo Núcleo Jurídico de Diversidade Sexual e de Gênero (Diverso) da UFMG e pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Envelhecer LGBT+: histórias de vida e direitos é estruturada em oito eixos temáticos: Subjetividades e envelhecimento, Sexualidade e identidade de gênero, Violências e discriminações, Cuidados e instituições de longa permanência (ILPIs), Saúde, Cultura, lazer e ativismo político, Acesso à renda e empregabilidade e serviços públicos. Veja o relatório do estudo.
Envelhecer LGBT+ é um desdobramento da pesquisa Longeviver LGBT+: envelhecimento da população LGBT e diagnóstico sobre o longeviver e o acesso aos serviços públicos municipais. De acordo com a pesquisadora do Diverso UFMG Cyrana Veloso, uma das autoras do estudo, na primeira etapa de escuta da pesquisa foram alcançadas 114 pessoas idosas LGBT+, por meio de questionário on-line. As pessoas informaram perfil socioeconômico, raça, orientação sexual e identidade de gênero, violências e discriminações vivenciadas ao longo da vida e na velhice e acesso a moradia e saúde após os 60 anos. Na segunda fase, 75 pessoas idosas LGBT+ foram entrevistadas em profundidade, com base na metodologia de história de vida.
Onde estão as pessoas idosas LGBT+
O mapeamento da população idosa LGBT+ de BH preenche uma lacuna identificada nos resultados de levantamento anual realizado pelo Diverso UFMG. “Aplicamos questionários na Parada do Orgulho LGBT+ de BH, e nos chamou a atenção o fato de que os frequentadores da parada são jovens, em sua maioria. As pessoas com 60 anos de idade ou mais praticamente não apareciam. Assim, a PBH identificou junto conosco a necessidade de mapear a população LGBT+ idosa. Se essa população não está na parada, onde ela estaria?”, detalha Cyrana.
Diante do desafio de mapear as pessoas idosas LGBT+ em BH, o Diverso percebeu que uma metodologia quantitativa não seria a mais adequada para abordar e garantir a participação do grupo de interesse. “Precisávamos fazer essa população ficar à vontade para conversar com a gente. Assim, optamos por uma pesquisa com metodologia de história de vida. Procuramos pessoas idosas LGBT+ que moravam na cidade de Belo Horizonte no momento da pesquisa, durante os últimos dois anos, e que se dispusessem a conversar e compartilhar a sua história conosco”, explica a pesquisadora.
O mapeamento também se valeu da metodologia de bola de neve, assim explicada por Cyrana. “Uma pessoa conhece a pesquisa, gosta, participa e vai indicando outras pessoas do seu meio”, diz. “Vimos o quanto era difícil fazer essa busca ativa. Não sabíamos onde elas estavam e quais espaços públicos de Belo Horizonte frequentavam”, justifica.
Subsídios para políticas
Segundo Cyrana Veloso, a complexidade e a profundidade do relatório possibilitarão ao poder público da capital mineira projetar ações específicas para a população idosa LGBT+. “Em geral, é uma população que não tem mais familiares vivos, que tem amigos e amigas que às vezes também são pessoas idosas LGBT+ e estão em situação delicada socioeconomicamente, com laços fracos, ficando o cuidado terceirizado ao Estado.”
Na avaliação de Cyrana, o estudo fornece à PBH dados para trabalhar questões nas áreas de segurança pública, saúde e cultura e de acolhimento da LGBT+. Lorena Paiva concorda com a pesquisadora: “A nossa principal demanda é por uma casa de acolhimento às pessoas idosas LGBT+. A maior parte da comunidade LGBT+, em especial o segmento trans, não consegue ter acesso a três refeições diárias, moradia e segurança, pois ao longo da vida o preconceito e a discriminação obstruíram o acesso ao estudo e ao emprego. O poder público precisa agir diante dessa triste realidade”, afirma.
Saiba mais em reportagem produzida em formatos intermídias, pelo Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG. Para acompanhar a versão em áudio desta reportagem especial, basta reproduzir a matéria veiculada pela Rádio UFMG Educativa, a partir do player disponível ao final da matéria.
Além disso, uma versão em vídeo foi produzida pelo Núcleo de Redes Sociais do Cedecom e está disponível no perfil da Universidade no Instagram (@ufmg). Assista ao vídeo.
Fonte: Assessoria de Imprensa da UFMG / Texto de Ruleandson do Carmo para o Portal UFMG