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Testosterona e culto ao corpo

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Recentemente, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) lançou a campanha “Testosterona – Só para quem tem deficiência confirmada” com o intuito de chamar a atenção sobre o aumento exponencial, nos últimos anos, de produtos e prescrições médicas com testosterona.

 

A testosterona é considerado o mais importante hormônio produzido pelo homem e só deve ser usado em situações legítimas, como reposição por deficiência, sendo imprescindível a recomendação e o acompanhamento médico. Entretanto, o uso indiscriminado para reativar a energia do corpo, aumentar o desejo sexual ou potencializar a musculação, por exemplo, expõe o usuário a grandes riscos.

 

O excesso de testosterona pode elevar a concentração de células sanguíneas e, entre as consequências, está a ocorrência de embolias, crescimento irreversível das mamas e redução na quantidade de esperma, podendo causar infertilidade.

 

Os esteroides anabolizantes sintetizados em laboratório são um dos meios mais procurados por quem que usa testosterona sem recomendação médica, tornando-se um problema de saúde pública. A sociedade contemporânea, marcada pelo culto ao corpo e o consumo desenfreado, estabelece padrões estéticos, associando categorias e status a músculos e excesso de gordura e impactando a identidade e autoestima das pessoas.

 

A excessiva valorização da aparência corporal, ultrapassando os conceitos de saúde, leva muitos brasileiros a investirem, desde cedo, em anabolizantes. Uma prova disso está no levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revelando que o uso de anabolizantes é feito por cerca de 1,4% dos estudantes brasileiros com até 18 anos. Entre os estudantes com mais de 19 anos, matriculados em universidades, a taxa subiu para 3,5%. Já, outro estudo estimou que o abuso dessas substâncias na população mundial seja de 3,3%, com uma prevalência quatro vezes maior em homens (6,4%), que mulheres, 1,6%.

 

Os efeitos colaterais incluem problemas no sistema cardiovascular, como acidente vascular cerebral, infarto cardíaco e distúrbio da função do fígado, incluindo tumores no órgão. Os anabolizantes aumentam as acnes, geram paranoia, alucinações e psicoses e também elevam a pressão arterial. Outro grave efeito está nas explosões de ira e comportamentos agressivos, impactando a qualidade das relações interpessoais e, até mesmo, a vida profissional.
As consequências são ainda mais sérias entre adolescentes, pois acelera a maturação óssea, isto é, o crescimento dos ossos do esqueleto não acompanha a idade. Soma-se a isso, o aumento dos pelos púbicos e do corpo e o desenvolvimento sexual precoce. Os resultados rápidos e satisfatórios da testosterona em excesso levam muitos homens e mulheres ao uso frequente dessas substâncias, tornando-se um hábito.

Afinal, quem não quer estar bem com o próprio corpo e ter todas as funções em perfeito estado? Entretanto, o mercado tem processos adequados para isso, sem prejudicar a saúde, exigindo apenas determinação e disciplina para a musculação, por exemplo, com acompanhamento de nutricionista e personal trainer. Vale lembrar que ainda existem mais uma série de outros riscos associados ao uso inadequado de testosterona, alertando que pode ser mais um tiro que sai pela culatra .

 

* Adauto Versiani é presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (SBEMMG)

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