O tema robótica ainda é muito associado à ficção científica ou a algo do gênero, por remeter a modernidade, inovação e praticidade. Entretanto, nos últimos anos, a robótica expandiu sua área de atuação, sendo implantada nos mais diferentes ramos profissionais, como na medicina. No ano passado, em Minas Gerais, muito se discutiu sobre a cirurgia robótica. A alternativa ganha cada vez mais espaço, mesmo com obstáculos para sua implantação, como o alto custo dos equipamentos e dos materiais cirúrgicos, além do complexo treinamento profissional que, normalmente, é realizado no exterior.
A tendência é a utilização de robôs em procedimentos cirúrgicos se espalhar, chegando também ao Sistema Único de Saúde (SUS), única entrada para mais de dois terços dos brasileiros. Atualmente, o Ministério da Saúde oferece incentivos fiscais para projetos que utilizem a tecnologia robótica, através dos programas de Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) e Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), feitos por entidades filantrópicas credenciadas.
O procedimento responde por mais de 80% dos tratamentos nos EUA e em países europeus. Não é exagero dizer que em uma década, mais ou menos, os médicos deverão estar completamente habituados a essa tendência. As vantagens mais conhecidas da plataforma robótica são a visão tridimensional com alta definição, câmera fixa, maior mobilidade das pinças e movimentos, maior número de instrumentos sob controle do cirurgião, ausência de tremor, menor curva de aprendizado, além de tornar factível a intervenção minimamente invasiva em pacientes obesas.
O robô Da Vinci XI – primeiro de Minas Gerais e segundo do Brasil – é um diferencial para a cirurgia oncológica. Nos casos de câncer ginecológico, por exemplo, é possível identificar tumores em tempo real através de uma tecnologia de infravermelho: o Firefly. A imagem de fluorescência permite que os cirurgiões tenham uma visão minuciosa e avaliem melhor a anatomia de vasos e estruturas.
As patologias benignas também são tratadas de modo diferente. A endometriose profunda, por exemplo, é uma doença que complica a vida de muitas mulheres. Pela via robótica, garante-se a preservação da fertilidade e das estruturas anatômicas, além de uma recuperação mais rápida.
O público é receptivo em receber cuidados de robôs, especialmente em mercados emergentes, conforme resultados da pesquisa “What doctor? Why AI and robotics will define New Health”, da PwC. O levantamento ouviu quase 11 mil pessoas de 12 países da Europa, África e Oriente Médio e constatou que 55% dos entrevistados assinalaram positivamente a possibilidade de serem atendidos por robôs com inteligência artificial.
Vale ressaltar que o robô não faz nada sozinho. Qualquer movimento é determinado pelo cirurgião, assim, o sucesso de uma cirurgia está mais ligado à experiência do profissional e menos ao método utilizado. Os médicos devem estar aptos a manusearem o equipamento, o que significa que é preciso passar por cursos de treinamento e também estar por dentro das novidades sobre o assunto.
Os avanços são impressionantes, mas não significa que as cirurgias convencionais desaparecerão. Em medicina cada caso é único. Haverá situações em que os procedimentos tradicionais continuarão sendo os mais indicados. Mas, quando os dois caminhos forem possíveis, as cirurgias minimamente invasivas podem garantir mais vantagens.
* Agnaldo Lopes Silva Filho é ginecologista oncológico da Rede Mater Dei e professor de ginecologia da UFMG