Os cuidados com a gestação devem ocorrer desde o início da gestação ou o mais rápido possível, após a descoberta, pois o primeiro trimestre é considerado o mais delicado, por ser a fase em que acontecem a formação do bebê e as principais alterações hormonais. O risco de abortamento é real e pode ser considerado uma das maiores preocupações femininas. O aborto espontâneo é um sofrimento para muitos casais, atingindo entre 15% e 20% das grávidas, caracterizado pela interrupção da gestação até a 20ª semana, quando o feto pesa menos de 500 gramas. O abortamento é dividido em duas categorias: precoce, até a 12ª semana e, tardio, entre a 13ª e 22ª semana.
Quem passa pela experiência de três ou mais perdas gestacionais consecutivas, antes de 20 semanas, é classificada como paciente abortadora habitual e a causa deve ser investigada. É importante ressaltar que duas perdas seguidas já é indicativo de procurar um especialista, pois, após a ocorrência de dois ou três abortamentos, a mulher apresenta 30% de chance para nova perda gestacional.
A interrupção recorrente da gravidez atinge entre 1% e 5% dos casais, sendo decorrência de diversos fatores. Os estudos apontam que duas doenças têm sido atribuídas ao problema, a primeira, relacionada às alterações genéticas e cromossômicas dos embriões, representando até 65% dos casos. A segunda é a síndrome anticorpo antifosfolípide, aumentando a probabilidade de formação de trombose e coágulos na circulação da placenta, reduzindo a chegada de sangue para o feto e, provocando, inclusive, a morte. A patologia representa entre 10% a 12% das causas de aborto de repetição.
Há, ainda, outros fatores relacionados ao abortamento, como as alterações do útero – miomas; trombofilias congênitas, propensão de desenvolver trombose por anomalia no sistema de coagulação; problemas endócrinos, infecciosos e autoimunes, atribuídos ao aborto de repetição, porém, menos prováveis.
Infelizmente, cerca de 85% dos casos ficam sem diagnóstico após investigação e, nesses casos, o recomendável é orientar o casal em relação ao estilo de vida, já que diversos fatores podem contribuir com a infertilidade e-ou a dificuldade em manter a gestação.
A recomendação é parar de fumar, reduzir o consumo de bebidas alcóolicas e cafeína, manter uma alimentação saudável aliada à prática de atividades físicas e, quando necessário, fazer acompanhamento psicológico para minimizar o impacto das perdas prematuras. À mulher, geralmente é indicada a suplementação com ácido fólico e progesterona. Geralmente, quando há mudança de hábitos, a possibilidade do casal engravidar sem intervenção médica pode chegar a 50%.
Sabe-se que o aborto recorrente deixa o casal frágil e abalado emocionalmente. O importante é não desistir de realizar o sonho da maternidade e da paternidade.
* Marco Melo é médico especialista em reprodução assistida e sócio-diretor da Clínica Vilara