Você sabia que, muito mais que uma diversão, a música modifica o funcionamento do nosso corpo? Ao se escutar uma melodia, a fisiologia e a dinâmica da produção de hormônios são modificadas, atuando diretamente sobre o nosso sistema nervoso. Com isso, a música é capaz não só de proporcionar bem-estar, mas traz benefícios efetivos para a saúde e melhora o humor, a concentração e o raciocínio lógico.
De acordo com a pesquisadora e fundadora do Núcleo Villa-Lobos de Educação Musical, Betânia Parizzi, as vibrações que chegam ao tímpano são transformadas em impulsos químicos e nervosos, afetando todo o corpo. Isso explica por que a música é usada em vários tratamentos de saúde, com resultados bastante satisfatórios. “Aqui na escola, não trabalhamos a música como terapia, mas os benefícios que ela traz são perceptíveis. É uma atividade que consegue acionar a maior quantidade de áreas dentro no nosso cérebro ao mesmo tempo. Com ela, você trabalha a fala, a coordenação motora, a memória, a atenção. Além disso, as mudanças emocionais provocadas pela música afetam a frequência cardíaca, a respiração, a pressão sanguínea, a digestão, o equilíbrio hormonal, entre outras áreas”, ressalta.
Um estudo feito pela Universidade da Califórnia, com crianças de 3 e 4 anos, por exemplo, mostrou que aquelas que tiveram aulas de teclado semanalmente apresentaram maior noção de espaço temporal do que aquelas que não tiveram aulas de música. Um outro estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Marília, em colaboração com colegas da Faculdade de Juazeiro do Norte, da Faculdade de Medicina do ABC e da Oxford Brookes University, da Inglaterra, mostrou que a música intensifica os efeitos benéficos de anti-hipertensivos em um curto prazo de tempo após a medicação.
Para Betânia, a música deveria estar presente na vida das pessoas desde antes do nascimento. “Sabemos que os benefícios são muitos e ultrapassam a barreira do lazer. Como terapia, ela pode ser usada até mesmo para estimular a comunicação não verbal em crianças com autismo”, destaca.
No Núcleo Villa-Lobos, as aulas de musicalização começam a partir dos 6 meses de idade e vão até a fase adulta e a preparação de professores, com materiais didáticos próprios para cada etapa do desenvolvimento. “Quanto mais cedo esse contato se inicia, melhores são as possibilidades de bons resultados. Há trabalhos científicos que comprovam que a musicalidade contida nos sons e nos gestos é a primeira forma do bebê se comunicar com o mundo e que as primeiras preferências musicais já são formadas ainda no período gestacional”, destaca a professora.
Por meio de diversas atividades, é possível levar crianças, adolescentes e adultos a trabalharem diferentes habilidades e competências, fundamentais para o seu desenvolvimento cognitivo e musical. Entre elas existem aquelas que são relacionadas mais diretamente à música, tais como: ouvir os sons do mundo com mais refinamento; discriminar os parâmetros do som (altura, duração, intensidade e timbre); criar sonoridades expressivas, organizá-las e relacioná-las a gestos e movimentos; reconhecer a forma e o caráter expressivo de obras musicais, utilizar a voz de forma saudável e criativa; construir instrumentos musicais e utilizá-los em sonoplastias e no acompanhamento de canções.
Entre as habilidades gerais, destacam-se o desenvolvimento da memória e da atenção, da capacidade de trabalhar em equipe; o desenvolvimento da coordenação motora e o refinamento da sensibilidade estética. “Tudo isso será decisivo para levar o aluno a compreender o fenômeno musical e a se expressar através dele, cantando, tocando, criando, ouvindo ativamente e improvisando, competências que representarão um grande diferencial na educação de crianças e jovens do Brasil”, avalia Betânia.