O mês de agosto começa trazendo uma data comemorativa de suma importância na construção da personalidade e da maturidade de um indivíduo: o Dia dos Pais. Apesar de muitos não possuírem o contato com essa figura de grande impacto emocional para os filhos, o papel do pai no desenvolvimento da criança e na interação entre pai e filho é um dos fatores decisivos para o fortalecimento cognitivo e social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na comunidade e no universo em que ela está inserida.
Mas temos que deixar claro que, na atualidade, a figura paterna pode ser desempenhada por qualquer pessoa que promova essa interação e essa responsabilidade. Sabemos que muitas crianças não possuem contato permanente com seus pais biológicos, por diversos motivos. E que, ao longo da vida, esse papel de acaba sendo desempenhado por um avó, um tio, um padrasto, um irmão, enfim…
No entanto, fato é que a figura paterna é responsável por uma boa parte da identidade deste indivíduo. E a ausência ou abandono do pai, ou ausência de quem desempenhe esse papel na infância pode trazer várias consequências para a criança e que podem se refletir na vida adulta, pois quanto maior é a participação e o envolvimento do pai no crescimento e na educação da criança, melhor é a qualidade da relação que se estabelece entre ambos. Visto que, o pai é um pilar muito importante no desenvolvimento psíquico e emocional de qualquer criança.
Psicanaliticamente falando, a figura paterna traz a representatividade da ordem, da tradição e da autoridade. Sabemos que a carência de amor e de afeto comprometem o desenvolvimento da criança e do adolescente. E quando as interações entre pais e filhos são mal adaptativas ou desajustadas, os resultados poderão levar a formas de comportamento antissocial. Portanto, fica evidente que o abandono também pode gerar grandes conflitos emocionais na vida da criança, seja por separação conjugal ou abandono dos filhos.
Por volta dos 6 e 12 meses de idade, ao longo do desenvolvimento infantil, a criança começa a identificar quem desempenha qual papel na sua formação: figura paterna e figura materna. É quando ela começa a ter a consciência da importância de cada um deles dentro da organização em que ela está inserida. Os pais fornecem uma base segura a partir da qual uma criança ou um adolescente pode explorar o mundo exterior e a ele retornar, certos de que serão bem-vindos, nutridos física e emocionalmente, confortados se houver um sofrimento e encorajados se estiverem ameaçados.
A consequência dessa relação de apego é a construção, por volta da metade do terceiro ano de idade, de um sentimento de confiança e segurança da criança em relação a si mesma e, principalmente, em relação àqueles que a rodeiam, sejam estes seus pais ou outros integrantes de seu círculo de relações sociais.
Neste contexto, afetivamente e emocionalmente, não temos dúvidas de que a ausência ou abandono do pai na infância pode trazer várias consequências para a criança e isso pode se refletir na vida adulta, tendendo a criar o desequilíbrio, gerador de vários problemas na formação da personalidade. A carência de amor e de afeto comprometem o desenvolvimento, podendo propiciar a formação de personalidades mal adaptativas ou desajustadas e com fortes indícios de comportamento antissocial.
Na prática, no dia-a-dia, quais seriam as principais consequências desta ausência paterna? Algumas crianças podem apresentar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo, bem como na elaboração de distúrbios de comportamento agressivos. Pois elas tendem a desenvolver sentimentos de insegurança e também manifestar graves transtornos de ansiedade, já que a construção psicoafetiva apresenta deficiências.
Além disso, elas também sofrem por não conseguirem desenvolver as habilidades adequadas para a convivência em sociedade, o que justifica a tendência a se isolar e não conseguir interagir de forma saudável com o outro. Um outro fator importante é a incapacidade de seguir leis ou respeitar autoridades, pois as crianças com pais ausentes, especialmente as do sexo masculino, podem não conseguir se submeter a uma figura de autoridade, e como resultado disso podem se tornar rebeldes e adeptos da violação das regras, criando sérias consequências negativas para ela no futuro.
A capacidade de amar de uma criança que não convive com uma figura paterna também fica comprometida. Em alguns casos, ela pode se sentir mal-amada e desamparada. Isso prejudica principalmente as mulheres, já que, geralmente, a forma como a menina se relaciona com o pai é o que vai determinar como ela idealizará os seus relacionamentos amorosos. Tais mulheres podem até se apaixonar, mas não chegam a ter um relacionamento sério, muitas vezes se apaixonam com rapidez e logo perdem o interesse. Isso porque, inconscientemente, buscam eternamente, nos homens com quem se relacionam, o pai que não teve.
A presença da figura paterna é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento cognitivo social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na sociedade. Se a criança acreditar que a falta de um pai faz dela uma pessoa defeituosa, ela pode desenvolver um complexo de inferioridade, se sentir rejeitada e desenvolver depressão e outras doenças psíquicas. Isso pode prejudicar muito a sua autoestima, levando-a a ter problemas de insegurança com relação a si mesma no futuro, por se achar menos digna que os outros. É claro que isso não tem nada a ver com a realidade, no entanto, o sentimento persiste e precisará ser tratado com terapia, caso contrário, essa criança vai sempre se sentir inferior.
Enfim, o dia dos pais é uma data que deve ser muito festejada, mas que também leva a reflexões importantes quanto ao papel dessa figura que tem grande influência no desenvolvimento e no psiquismo infantil. Se você pode desempenhar o seu papel de pai, não perca a oportunidade, pois tanto o afeto paterno quanto materno representam a possibilidade do equilíbrio como regulador da capacidade da criança ou do jovem investir no mundo real.
Porém, a ausência ou o abandono são extremamente prejudiciais ao desenvolvimento dos vínculos de sobrevivência do indivíduo, propiciando alterações comportamentais que acionam o sinal de alerta demonstrando que algo está em desequilíbrio ou mesmo, favorecendo o desenvolvimento de transtornos emocionais, como: a depressão infantil, as neuroses oriundas da ansiedade generalizada, o agravamento de TDAH, os distúrbios de sono, as alterações de humor neurótico e o aumento de fobias.
Portanto, o estímulo ao convívio entre pais e filhos certamente é um forte instrumento na construção e no desenvolvimento equilibrado de uma maturidade emocional saudável e livre de transtornos e traumas.
* Andréa Ladislau é psicopedagoga, doutora em Psicanálise Contemporânea e Membro Imortal da Academia Fluminense de Letras.